ANEXA DE SANTA JUSTA DO CONCELHO DE ALFÂNDEGA DA FÉ
sábado, 5 de setembro de 2009
LUGAR DESPOVOADO
A capela de S. Gonçalo
A capela de S. Gonçalo
Os moradores da Quinta de Rio de Vides solicitaram ao arcebispo
autorização para benzer a capela de S. Gonçalo situada nessa quinta em 1755
Será que os anjos pisam a terra do pão fluindo ao vento? Se pisam, é assim como se voassem, com sua espécie de ar. Constam de quê? Sopro? Imo trémulo? Só leveza? Velando solícitos subtilezas íntimas indiciam. - Guia-te o sonho o desassombro, aladas presenças sobre pálpebras; com salivado pão te reconheces. - Folhas tremulantes, em círculos de vento… Esperas ainda? Faz-se café. Crianças gritam duns fundos. Árvores renovam-se nos passeios a quem passa. Freme folhagem, sobre a borda, junto à ponte. Uma circulação intensa sobre pneus. Flores coloram as bermas dos carreiros. Passam uns trabalhadores, com suas camisas garridas. Umas moças, com as batas, umas enfermeiras, ou colegiais. Algazarra, cores, ruído. Tempo do novo amanhecer. Não sentes o vagaroso apelo? Desafogueia-te, anda. Há jornais, livros, pão, palavras. Lança-te à rua. Não guardes nada nos bolsos. - Já as cegonhas paravam por seus ninhos, sobre olmos. Enquanto as águias planavam, a plena altura. Findava a Primavera. Concluídas aulas, comboios regurgitavam com quantos regressavam a férias. Motociclos dobravam esquinas. Felicidade sondava dentre choupos. Galhos de nespereiras agitavam-se com aragem. Muito ainda a que lançar mão. Acordarias? Deixarias, sombra, as paredes fechadas do teu quarto? Darias as voltas necessárias? - Amontoam-se livros, caixas, isqueiros. Para a gaveta ficar arrumada há que fechá-la. Calcetam-se pavimentos, plantam-se árvores de flores resplandecentes p’lo deserto cimento. Ouve-se um ruído: Alguém a riscar ferro. Cafés às moscas. Autocarros regularmente certos. Estores caídos, largas janelas. Computadores desligados, camas vazias. Alunos em salas fechadas. Motos, ruídos, cães, e automóveis. Agressão? Estranheza? Apaziguamento? Se saísse tombava apavorado. - Do crepitante lume: Voltas que dê aqui regresso. E afãs se esvaem. - Desequilibra-se e cai o regente de orquestra. - De bem longe vem, e está à porta, o homem, cabelos brancos, rugas cavadas, testa alta. Traz paz o homem. Deixem-no a caminho até para lá da porta.
Redonda que nem O, a formosa lua repousa no zénite do horizonte. - Presa ao corrimão da escada, a bicicleta do sonho; nela galgo degraus e patins, milhentos andares. - Mesa, onde a água, o quente café; repouso a movimento; pra versos motivo. - Cinzeiro com cinzas, fumos; enche-se dum sobejo ar. - Radiozinho, sons, vozes, luas; ósculos a ouvidos, qu’auscultam. - Esferográfica, riscando o plano, desliza; verdade a preencher a luz. - Moedas esquecidas, um troco distante; a que jazem aí, se a mundo devidas? - Gentes, irrompendo, a entrada perpassam; anelam p’lo dia, por enquanto incerto. - A hora entreaberta, tangem-se plenitudes. - A planta, escondida, subindo húmus; pouco, mas tanto, teimando crescer. - A espada, o espírito, a palavra inflamada; recolhidos os versos, relê-se o transcrito; confluem para a vida desvairados andantes. - Da porta a passagem… Ora o coração. - Maria o Filho nos dá; com Ela sonhamos.
Ângelo Ochôa / Manuel Ângelo Ochoa de Castro / Sonhadas Palavras
Será que os anjos pisam a terra do pão fluindo ao vento?
ResponderEliminarSe pisam, é assim como se voassem, com sua espécie de ar.
Constam de quê? Sopro? Imo trémulo? Só leveza?
Velando solícitos subtilezas íntimas indiciam.
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Guia-te o sonho o desassombro,
aladas presenças sobre pálpebras;
com salivado pão te reconheces.
-
Folhas tremulantes, em círculos de vento…
Esperas ainda?
Faz-se café.
Crianças gritam duns fundos.
Árvores renovam-se nos passeios a quem passa.
Freme folhagem, sobre a borda,
junto à ponte.
Uma circulação intensa sobre pneus.
Flores coloram as bermas dos carreiros.
Passam uns trabalhadores, com suas camisas garridas.
Umas moças, com as batas, umas enfermeiras, ou colegiais.
Algazarra, cores, ruído.
Tempo do novo amanhecer.
Não sentes o vagaroso apelo?
Desafogueia-te, anda.
Há jornais, livros, pão, palavras.
Lança-te à rua.
Não guardes nada nos bolsos.
-
Já as cegonhas paravam por seus ninhos,
sobre olmos.
Enquanto as águias planavam, a plena altura.
Findava a Primavera.
Concluídas aulas,
comboios regurgitavam
com quantos regressavam a férias.
Motociclos dobravam esquinas.
Felicidade sondava dentre choupos.
Galhos de nespereiras agitavam-se com aragem.
Muito ainda a que lançar mão.
Acordarias?
Deixarias, sombra, as paredes fechadas do teu quarto?
Darias as voltas necessárias?
-
Amontoam-se livros, caixas, isqueiros.
Para a gaveta ficar arrumada há que fechá-la.
Calcetam-se pavimentos, plantam-se árvores de flores
resplandecentes p’lo deserto cimento.
Ouve-se um ruído:
Alguém a riscar ferro.
Cafés às moscas.
Autocarros regularmente certos.
Estores caídos, largas janelas.
Computadores desligados, camas vazias.
Alunos em salas fechadas.
Motos, ruídos, cães, e automóveis.
Agressão?
Estranheza?
Apaziguamento?
Se saísse tombava apavorado.
-
Do crepitante lume:
Voltas que dê aqui regresso.
E afãs se esvaem.
-
Desequilibra-se e cai
o regente de orquestra.
-
De bem longe vem,
e está à porta, o homem,
cabelos brancos,
rugas cavadas, testa alta.
Traz paz o homem.
Deixem-no a caminho
até para lá da porta.
Redonda que nem O,
ResponderEliminara formosa lua
repousa no zénite
do horizonte.
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Presa ao corrimão da escada,
a bicicleta do sonho;
nela galgo degraus e patins,
milhentos andares.
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Mesa,
onde a água, o quente café;
repouso a movimento;
pra versos motivo.
-
Cinzeiro
com cinzas, fumos;
enche-se dum sobejo ar.
-
Radiozinho,
sons, vozes, luas;
ósculos a ouvidos,
qu’auscultam.
-
Esferográfica,
riscando o plano, desliza;
verdade a preencher a luz.
-
Moedas esquecidas,
um troco distante;
a que jazem aí,
se a mundo devidas?
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Gentes,
irrompendo,
a entrada perpassam;
anelam p’lo dia,
por enquanto incerto.
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A hora entreaberta,
tangem-se plenitudes.
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A planta,
escondida, subindo húmus;
pouco, mas tanto, teimando crescer.
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A espada,
o espírito, a palavra inflamada;
recolhidos os versos, relê-se o transcrito;
confluem para a vida desvairados andantes.
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Da porta
a passagem…
Ora o coração.
-
Maria o Filho nos dá;
com Ela sonhamos.
Ângelo Ochôa / Manuel Ângelo Ochoa de Castro / Sonhadas Palavras